
05/11/2025 - 12h57
O Brasil está mais junto do que casado. Pela primeira vez, o número de casais que vivem em união consensual, sem cerimônia religiosa ou registro civil. superou o total de casamentos formais, segundo o Censo 2022 do IBGE.
A mudança não é apenas estatística: revela um novo comportamento social e afetivo. Hoje, quase quatro em cada dez uniões (38,9%) são consensuais. Em 2000, eram 28,6%. Enquanto isso, os casamentos civis e religiosos somados caíram de 49,4% para 37,9% no mesmo período.
Entre os mais jovens, a informalidade domina. Na faixa de 20 a 29 anos, as uniões consensuais são mais de quatro vezes mais frequentes do que os casamentos. A tendência se mantém até os 39 anos e só se inverte depois dos 50.
Para a pesquisadora Luciane Barros Longo, do IBGE, o dado reflete “uma mudança comportamental no país”, associada tanto à renda mais baixa quanto à busca por relações menos burocráticas. “A união consensual ainda é um fenômeno mais jovem, mais ligado a pessoas de menor renda”, afirma.
O levantamento indica que o perfil dessas uniões é marcado também por diversidade religiosa e econômica. Entre pessoas sem religião, 62,5% vivem em união consensual. Entre católicos, o índice é de 40,9%; entre evangélicos, 28,7%. O modelo é predominante também entre os que ganham até um salário mínimo.
A decisão do Supremo Tribunal Federal de 2017, que equiparou os direitos sucessórios da união estável aos do casamento, pode ter contribuído para esse avanço; embora a união estável não altere o estado civil.
Em paralelo, o Censo mostra que o país ainda convive com uniões precoces: 34,2 mil pessoas entre 10 e 14 anos vivem com cônjuges, 77% delas meninas.
“O dado mostra uma realidade dura, mas concreta”, diz Luciane.
A idade média da primeira união é de 25 anos, 23,6 entre mulheres e 26,3 entre homens. Na análise racial, há forte tendência de casais com o mesmo grupo de cor: 71,5% dos homens brancos vivem com mulheres brancas; entre os pardos, 70,2% se unem a mulheres pardas.
Mais do que números, o levantamento do IBGE desenha um retrato do Brasil contemporâneo: menos religioso, mais informal e com novos arranjos familiares.
Um país onde o “sim” deixou de depender do altar ou do cartório.
Foto: Agência Brasil
Fonte:Agência Brasil