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06/10/2025 - 11h26

Estudo aponta racismo estrutural na primeira infância e alerta para falhas na proteção escolar

Um levantamento nacional realizado pelo Datafolha a pedido da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal mostra que 16% das crianças de até 6 anos já sofreram racismo no Brasil. O estudo, intitulado “Panorama da Primeira Infância: o impacto do racismo”, foi divulgado nesta segunda-feira (6) e evidencia a presença do preconceito desde os primeiros anos de vida.

A pesquisa entrevistou 2.206 pessoas, incluindo 822 responsáveis por crianças pequenas. O índice de discriminação é quase o dobro entre famílias pretas e pardas (19%) em comparação a famílias brancas (10%).

Educação infantil como foco

As creches e pré-escolas aparecem como os locais mais citados para a ocorrência de discriminação, com 54% dos relatos — proporção maior na pré-escola (61%) que nas creches (38%). Também foram mencionados espaços públicos (42%), comunidades (20%), família (16%), estabelecimentos comerciais (14%) e igrejas (3%).

Para Mariana Luz, CEO da fundação, o dado reforça a urgência de políticas públicas voltadas à formação de profissionais da educação.

“Cada escola precisa de protocolos claros para lidar com denúncias de racismo. É preciso formar professores, gestores e auxiliares para que saibam identificar e reagir a essas situações”, defende.

Efeitos e políticas públicas

O estudo ressalta que o racismo é uma experiência adversa na infância, capaz de provocar estresse tóxico, com reflexos no comportamento, aprendizado e saúde das crianças. Por isso, a fundação defende ações preventivas e o cumprimento da Lei nº 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar.

Segundo levantamento de 2023, sete em cada dez secretarias municipais de Educação ainda não implementaram plenamente a norma.

Reforço legislativo

A fundação lembra que o racismo é crime, conforme a Lei nº 7.716/1989, e a Lei nº 14.532/2023 ampliou as punições para injúria racial, com reclusão de 2 a 5 anos. A denúncia deve ser feita à Polícia Civil, com coleta de provas e testemunhos.

“Reconhecer que somos uma sociedade racista é o primeiro passo. O segundo é agir coletivamente para mudar esse cenário, desde o berço”, conclui Mariana Luz.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasi

Fonte:Agência Brasil

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